Gêneros: Ação,
Romance, Humor.
Sinopse: A ameaça
zumbi já faz parte da vida das pessoas, incluída na rotina do dia-a-dia. Marlon
vive sua vida calmamente em meio às suas rondas de vigilância e ao som do Rock ‘n’ Roll... até algo interromper a
sua pacata rotina...
Nota: Este é meu
conto zumbi (risos). Eu sei que zumbi virou modinha, e eu só me deixei escrever
esta história porque a primeira ideia foi para um tipo de paródia. Depois que
comecei a escrever, vi que começou a ter um pouco de romance e de ação, e ficar
um pouco mais séria, mas sem deixar de ter um tom de humor lá no fundo. Preciso
dizer que não entendo nada de mulheres e que não faço a menor ideia do que elas
querem em um relacionamento, o que eu escrevi é puramente ficção, não me façam
perguntas a esse respeito xD Os acontecimentos se passam em uma cidade
fictícia, que aparentemente não ficaria no Brasil, por um motivo que vocês vão
entender xD Algumas repetições de
palavras foram intencionais para o ritmo e estilo do texto, que é um tanto mais
leve, mais solto.
Chance Única
Por Claudia Mina
Marlon escutava uma música diferente naquele dia, uma canção
de melodia romântica, daqueles cantores que têm aquelas vozes bonitas de dar
inveja, um estilo diferente do bom e velho rock
‘n’ roll ou do metal que costumava escutar a caminho do seu
"emprego". Era uma tarde ensolarada e calma. Marlon sorriu ao ver os
raios de sol enquanto escutava o cantor apaixonado – o que o fez lembrar que
deveria passar em um lugar especial antes de se dedicar ao seu serviço: a loja
de armas.
Marlon desceu do seu jipe e foi caminhando em direção à construção
que um dia fora imponente, mas que havia se transformado num tedioso local de
paredes desbotadas e cansadas. Logo ao abrir a porta, um irritante ranger de dobradiças
deu as boas-vindas ao novo visitante.
- Alguém precisa passar um óleo nisso - Marlon pensou em voz
alta e se surpreendeu ao receber uma resposta.
- Isso é uma reclamação?
O olhar de Marlon se voltou para uma jovem que
"bonita" seria pouco para defini-la – ela era sensacional. Morena,
cabelos castanhos escuros e um leve bronzeado. Corpo perfeito, cheio de curvas
nos lugares certos. Usava um jeans colado que era uma loucura, blusinha branca
justa e colete preto que maldosamente cobria o decote. Ela era alta, mas estava
longe de ser tão alta quanto Marlon, com seus 1,88 m. Seus olhos eram grandes e
de um castanho claro – quando o sol os iluminava, brilhavam num dourado escuro.
Eles estavam brilhando daquele jeito naquela tarde, com o sol que espreitava
pela janela; Marlon estava olhando para eles e eles olhavam de volta com um
olhar de deboche, daqueles que mulheres bonitas e inalcançáveis dão a qualquer
homem que se aproxima, e Sandra era para ele linda e inalcançável.
- Longe de ser uma reclamação, Sandrinha.
Quando a gata escutou o apelido de Sandrinha, seus olhos se
comprimiram numa leve careta de desaprovação, mas logo em seguida ela deu de
ombros. - O que você quer dessa vez?
- O de sempre - Marlon sorriu bem-humorado. Ele estava
sempre alegre e não era uma garota mal-humorada que o faria perder o bom humor,
mesmo porque era uma garota mal-humorada bonita e ele achava aquele olhar de
poucos amigos um charme.
- O de sempre? - Sandra perguntou com um certo tom confuso, porém
suas mãos já se ocupavam de pegar a munição e colocar em cima do balcão.
- É, o de sempre, por que a surpresa?
- É porque você sempre pede o de sempre- Sandra disse com um
tom de inocência que fez Marlon rir.
- É que eu peço o de sempre porque eu gosto de pedir o de
sempre.
- Mas você sempre vem aqui pedir o de sempre, porque você não
compra mais munição de uma só vez e faz um estoque?
Era verdade que Marlon visitava a loja pelo menos duas vezes
por semana, até três...
- É que eu gasto muita munição, sabe, o meu trabalho...
Marlon vigiava os limites da cidade para impedir que algum
zumbi se aproximasse das grades de proteção que a cercavam. Não era um trabalho
oficial, mas a comunidade o havia escolhido para ser o vigilante local. Eles o
pagavam para que ele os protegesse de uma possível ameaça. E ele era bom nisso,
gostava disso.
- Tem tantos zumbis aqui perto? - Sandra perguntou alarmada.
- Eu pensava que eles já não estavam mais na região...
Era verdade que a cidade há muito não ouvia falar de zumbis.
Aparentemente, o governo estava combatendo a ameaça zumbi com bastante eficiência
no país, isolando as áreas afetadas. Havia sido um caos no inicio da infestação
zumbi, a humanidade se via à beira de um colapso. Com o tempo, os homens
aprenderam a lidar com a situação, até que os zumbis se tornaram uma praga
controlada. Apenas casos esporádicos eram relatados às autoridades e casos de
mortes eram muito raros.
- Só um ou outro zumbi por perto - Marlon tentou consertar a
situação para não alarmar a moça. - É que às vezes nos saímos dos limites da cidade
para caçar alguns grupos.
Sandra arregalou os olhos. - Vocês saem dos limites da
cidade?!
- É... para evitar que eles se aproximem demais... - Marlon
mentiu.
- Isso é loucura... mas acho que é preciso muita coragem
para isso...
- Isso foi um elogio? - disse Marlon esperançoso.
- Não... Não veja isso como elogio, eu só não quero que você
fique se arriscando por ai.
- Você tá preocupada comigo?
- É lógico que não - Sandra colocou o que faltava da munição
em cima do balcão. -Pronto, já tá tudo aqui.
- Entendi, vou parar de amolar você e trabalhar um pouco. –
Marlon pegou a munição e deixou o dinheiro sobre a mesa. – Eu tô indo embora,
mas não pense que se livrou de mim – disse ao caminhar em direção à porta.
- Ah... isso eu sei que vai ser difícil...
Marlon sorriu enquanto saía da loja, entrou no carro
novamente e seguiu seu caminho. Era realmente um belo dia de sol e tudo parecia
alegre e tranquilo naquela cidade.
No caminho, Marlon viu uma velhinha sorridente, sentada
alegremente em um banco em sua varanda, agulha e linha para um bordado em suas
mãos e uma espingarda como companheira ao seu lado.
Passando por um campinho, havia crianças brincando alegremente,
dois meninos e uma menina, todos com suas pistolas, tentando ver quem acertava
melhor o alvo. Marlon sorriu ao se recordar da sua infância, quando ele
treinava tiro em sua escola. Fazia parte da grade curricular ter aulas de tiro
e defesa para um possível ataque zumbi; era a matéria preferida de Marlon. As
outras crianças costumavam zombar dele pelo entusiasmo exagerado que ele demostrava
em cada aula. Toda a vez que o professor perguntava quem queria começar um
treinamento novo, Marlon sempre era o primeiro a se prontificar. Ele não ligava
para os risos dos colegas, nem um pouco. Apesar de ele ter sido aquela criança bem
maior que as outras, ele nunca se aproveitou de seu tamanho para bater em
alguém, ou ameaçar alguém. Apesar de adorar as aulas de artes marciais e
competições de luta, Marlon nunca foi de brigar. Sempre foi alegre e
sorridente. Nunca havia tempo ruim para ele.
Após alguns minutos de carro pela via ensolarada, Marlon
chegou em uma casa no meio de um bairro residencial. Era uma casa branquinha,
mais uma entre todas as outras, nada de especial. Ele bateu à porta, mas não
escutou resposta alguma, então simplesmente testou a maçaneta e entrou no local;
passou pela sala e seguiu o corredor até o quarto, onde encontrou um rapaz
dormindo como se não houvesse a menor preocupação com o mundo. Marlon não
pensou duas vezes antes de pular em cima da cama e atacar o jovem com um
travesseiro.
- É HORA DE ACORDAR! – ele gritava enquanto pulava sobre a
cama.
O rapaz recém-acordado levou um susto tão grande que quase
caiu no chão, mas se segurou ao colchão no último instante.
- O que você tá fazendo aqui? – Everton perguntou, embora já
soubesse a resposta.
- Já passou da hora de fazer a ronda!
- E daí? - Everton esfregou os olhos e afundou o rosto no
travesseiro novamente. – Nunca acontece nada – disse com a voz abafada pelo
tecido. – Você sabe que não temos ataques há meses...
- E você acha que isso é motivo para baixar a guarda? –
Marlon puxou Everton pela camiseta e o fez olhar para ele. Por um momento, Marlon
pareceu sério. Olhar para o rosto de Everton trouxe uma lembrança antiga à tona.
Há um tempo, quando Marlon não devia ter mais de 11 ou 12
anos, havia uma menina com aquele mesmo cabelo loiro do Everton e os mesmos
olhos verdes. Era a coisa mais bonitinha que Marlon já vira. Ele a observava no
parquinho, brincando no balanço ou colhendo florezinhas. Marlon nunca sentiu
aquela desavença que alguns meninos sentem pelas meninas em certa época da
infância. Ele sempre as achou umas gracinhas e adorava brincar com elas. Marlon
gostava especialmente de brincar com aquele anjinho loirinho chamado Melissa.
Ela era tímida e Marlon se esforçava ao máximo para fazê-la sorrir. Ele contava
várias piadas, inventava várias histórias malucas, só para ouvir aquela risada
doce, e se sentia muito vitorioso quando conseguia ganhar um sorriso. Um dia,
porém, ele soube que nunca mais poderia escutar aquele riso. Havia acontecido
um ataque inesperado no parque, de alguma maneira os zumbis conseguiram
atravessar a barreira na mata e alcançado o local. Só houve um caso fatal
naquele dia, apenas uma menina que não conseguiu fugir. Aquele foi o único dia
em que Marlon faltou ao treinamento na escola, foi o dia do enterro da Melissa.
- Você tá bem, cara? – disse Everton ao ver a mudança na
expressão de Marlon. Era realmente muito estranho vê-lo sem um sorriso no
rosto, com um olhar baixo e perdido.
- Tô bem sim. – Marlon afastou os pensamentos da cabeça e se
levantou da cama, olhando ao redor. Havia vários videogames e jogos espalhados
pelo chão do quarto. – Não me diga que passou a noite inteira jogando de
novo...
- Ah... passei, e daí?
Marlon sabia que não tinha o que se fazer com pessoas assim
– essas pessoas viciadas em videogame. - Vai, se arruma logo, a gente precisa
sair daqui.
Everton se levantou da cama e começou a trocar de roupa e
pegar suas armas com muita preguiça.
- Aposto que não tá nem malhando.
- Tô sim – Everton bocejou.
- Quando foi a última vez?
- Uns dias aí...
Marlon não entendia como as pessoas tinham tanta preguiça de
malhar. Ele sempre acordava cedo, com toda a disposição do mundo e estava lá na
academia que montara em casa. Marlon queria estar sempre em forma para vigiar a
cidade e protegê-la durante um possível ataque... Talvez ele tenha assistido
muitos filmes de super-heróis quando criança e no fundo queria ser um... Talvez
ele apenas queria poder salvar alguém.
Quando Everton ficou pronto, os dois saíram e entraram no
carro de Marlon. Eles atravessaram a cidade e pegaram a estrada que a
circulava, beirando os limites dela. Naquele momento era de tarde, e o sol
queimava com uma intensidade quase cruel. Pelo menos o vento era agradável e
trazia um alivio momentâneo quando soprava sobre eles. A música era alta, de um
rock antigo e bom, e Marlon não se atreveu a atrapalhar a guitarra contando
mais uma de suas piadas. Ele simplesmente estava contente em deixar o som
rolar. Everton estava quieto enquanto olhava a paisagem quase desértica ao seu
lado; ele sempre fora um rapaz muito quieto. Marlon tinha a impressão de que
eles sempre estudaram na mesma escola, mas nunca chegou a reparar nele, de tão
quieto que ele era. Everton era aquela criança que ficava num canto e nunca
falava com os outros. Marlon apenas o reconhecia algumas vezes andando por
algum corredor porque sabia que aquele era o irmão da Melissa. A primeira vez
que o viu foi no velório da irmã, ele era pequeno e estava quieto, não olhava
ninguém. Talvez fosse muito novo para entender. Talvez entendesse bem demais.
Certo dia Marlon resolveu passar mais tempo nos campos de treinamento da escola
e viu aquele menino quieto treinando tiro. Marlon viu Everton acertar o alvo
todas as vezes. Quando se aproximou e perguntou o que ele fazia para ser tão
bom, Everton simplesmente respondeu que aprendeu com videogames. Quando Marlon
começou seu trabalho de caçador de zumbis, chamou Everton para ser seu
parceiro; na época, há cinco anos, aquele rapaz tímido, que mal havia saído da
adolescência, já era o melhor atirador da cidade.
Eles fizeram a ronda pela região, como de costume, e pararam
em alguns check points para ter uma
visão mais ampla das áreas que cercavam a cidade. Os dois viram que estava tudo
tranquilo, como sempre, as grades e muros que cercavam os limites da cidade
estavam intactos, não havia nenhum sinal que perturbasse a paz daquelas
planícies. Já era começo de noite quando resolveram dar uma parada num local
onde o céu parecia de uma imensidão sem fim. Deixaram o jipe na estrada e
caminharam até um local no meio da planície, sentaram-se na terra seca da
região semiárida e puseram-se a admirar os montes ao longe e o mar celeste de
estrelas sobre suas cabeças. Latas de cerveja foram abertas e a conversa
começou. Aquela antiga conversa de sempre...
- Nada com a Nicole ainda? – Marlon perguntou após uns goles
de cerveja.
Everton permaneceu em silêncio por um tempo, tomou um gole
da bebida, pensou um pouco, e só depois respondeu. – Eu ainda tô esperando a
hora certa.
- Que isso de hora certa? Você já tá esperando há um ano...
ou mais? Acho que mais...
- A Nicole é uma garota delicada, não é para ir chegando de
qualquer jeito...
- Não, não precisa ser de qualquer jeito. Você pode ir lá,
na boa, puxar um papo, daí você vai chegando mais perto, deixando ela mais à
vontade. Você diz que gostou dela e pergunta se tem chance.
- Não! Vai que ela fala que não! – disse Everton alarmado.
- Ah... É uma possibilidade, você precisa ser homem e
encarar.
- Mas eu não quero que ela diga não!
- Mas se você nunca disser nada, nunca vai ter chance.
- Eu sei, mas... como eu disse, eu tô esperando o momento
certo.
- Everton, você tá é com medo, mulher não gosta de homem
covarde. Mulher gosta de homem com atitude. Eu nunca tive medo de falar com uma
mulher. Eu posso levar um fora, mas eu não fico sem tentar. Às vezes você
ganha, às vezes você perde, é a vida. É só ficar tranquilo, ser legal, ter bom
humor, não precisa ter medo.
- Mas você tem medo da Sandra...
Marlon se lembrou da moça da loja de munição... – É... eu
tenho medo dela... – O jovem riu. – Eu tenho medo da Sandra. Nunca vi mulher
como aquela... Parece aquele tipo de mulher inalcançável... Incrível demais
para ser verdade.
- Viu? Até você tem medo.
- Mas eu vou tentar um dia, eu não vou desistir.
- Duvido você tentar na próxima vez que você for ver a
Sandra.
- Você tá querendo me desafiar? Tá querendo fazer uma
aposta?
- Tô dizendo que você não tem toda essa coragem – Everton
sorriu de maneira jocosa.
- Não tenho, é? Vamos fazer o seguinte, assim que eu voltar,
vou falar com a Sandra, mas você vai falar com a Nicole também.
Everton sentiu um certo tremor de apreensão percorrer seu
corpo, mas decidiu aceitar o desafio. – Tá certo.
- Eu não ouvi direito! – Marlon gritou e sua voz se espalhou
pelo ar da planície.
- Eu vou falar com a Nicole! – Everton também gritou.
Marlon deu risada – Agora eu senti firmeza!
Everton também riu e o ar da conversa se tornou muito mais
leve. A noite estava clara, bonita e agradável e eles haviam acabado de
terminar a primeira cerveja. Marlon pegou mais duas latas da caixa térmica e
estendeu a mão para oferecer uma delas para Everton, mas o rapaz parecia não estar
prestando atenção.
- O que é aquilo? – Everton disse com o olhar fixo no
horizonte.
- Aquilo o quê? – Marlon olhou para o horizonte e por um
momento só viu os montes ao longe.
- Parece que tem alguma coisa se mexendo... – Everton forçou
a visão.
- Eu não tô vendo nada...
Everton se levantou repentinamente e pegou seu rifle numa
rapidez impressionante. Um segundo mais tarde, o som de um tiro cruzou as
planícies num estampido cortante.
- Que isso, Everton, tá querendo me assustar? – Marlon ainda
não estava entendendo o que estava acontecendo, mas seus instintos o fizeram
levantar, pegar a metralhadora e apontar a arma para a mesma direção que
Everton apontava a sua. Marlon olhou para o amigo e viu uma expressão
extremamente séria no rosto do rapaz, mais um tiro foi disparado. – O que está
acontecendo? – Marlon perguntou num suspiro.
Everton não respondeu, parecia estar sob o efeito de alguma
magia. Foi quando Marlon reparou em algo que se mexia à distância, algo com
braços e pernas humanos, mas que ele tinha certeza que não era mais humano. –
Não pode ser... – Marlon viu Everton
acertar o zumbi que ele vira e depois um outro que surgiu. Depois disso, não
parecia ter mais nenhum zumbi à vista, mas o instinto de alerta ainda reinava
com força e eles esperaram um pouco mais... até perceberem que mais zumbis apareceram.
Everton começou a atirar sem parar, e cada tiro era certeiro, derrubando os
zumbis no ato.
Por um momento, a situação pareceu sob controle, mas uma
quantidade maior de zumbis surgiu e alguns começaram a escalar as grades de
proteção. Marlon e Everton estavam longe da cidade, em uma região não tão bem
guardada. Em dado momento, apenas a distância era o que os separava de um
contato direto com os zumbis, distância que se encurtava à medida que a horda
de zumbis crescia. Everton se concentrava em atirar nos zumbis mais distantes
com seu rifle e Marlon atirava nos que escapavam da mira de Everton com sua
metralhadora. A dupla parecia trabalhar em plena sintonia e a situação mais uma
vez parecia controlada, até que um grito de Everton foi ouvido:
- Do outro lado!
Marlon viu que um novo grupo de zumbis estava vindo de outra
direção, na sua direção, e se virou para metralhá-los.
- Marlon! – Everton gritou em desespero.
No momento em que Marlon escutou seu nome, sentiu braços
frios e pegajosos o segurarem por trás. Marlon sentiu a força descomunal e
lutou para se soltar, até conseguir girar o corpo e derrubar o zumbi com um
golpe marcial. Logo que pôde, Marlon atirou na cabeça do zumbi que estava no
chão, livrando-se daquela ameaça, e logo em seguida voltou a atenção para os
outros. Naquele momento, Everton já tinha trocado o rifle pela metralhadora e
atirava nos zumbis que mais e mais se aproximavam e já os cercavam.
De repente, Marlon se viu sem munição e se lembrou de que
havia deixado o que comprara no jipe... que estava encostado na estrada, a uma
distância que naquele momento parecia longe demais. Ele sabia que Everton logo
estaria sem munição também, eles não estavam preparados para um ataque daquela
magnitude... o veículo parecia ser a única saída.
- Para o jipe! – Marlon gritou e tentou abrir caminho por
entre a horda de zumbis. Everton tentou segui-lo, mas os zumbis o cercaram.
- Everton! – Marlon gritou ao ver o amigo sumir em meio aos
zumbis... Desespero passou pela sua
mente por um momento, mas ele não demorou a partir para cima dos inimigos no
corpo a corpo, a vida de Everton dependia dele. Marlon pegou um zumbi pelo
pescoço, derrubando-o no chão. Ele retirou uma adaga do cinto, antes, apenas
uma lembrança de seu pai; naquele momento, sua única salvação. Ele cravou a
adaga na cabeça do zumbi no chão e logo se levantou para cortar o pescoço de
outro. Golpeou um deles com o cotovelo esquerdo, aturdindo-o, e logo em
seguida, cravou a adaga na cabeça de outro com a mão direita, para então fincar
a adaga no zumbi aturdido. O ar estava pesado com o cheiro de carne decomposta
e morte. Em meio ao desespero e sangue, Marlon lutou como nunca havia lutado,
nunca estivera tão perto de perder a vida. Num esforço que beirava a
insanidade, Marlon se viu derrubando zumbi após zumbi apenas com a sua força
física e a adaga de seu pai, até não sobrar nenhum para atacá-lo. Marlon mal
podia acreditar no que tinha acontecido, mas não tinha tempo a perder.
Em meio aos corpos caídos no chão, ele levou um tempo para
retirá-los do caminho e localizar Everton. O rapaz mais jovem estava coberto de
sangue, da cabeça aos pés, com um olhar assustado.
- A gente quase morreu, né? – Everton disse após um longo
silêncio.
- É, a gente quase morreu – foi
a única coisa que Marlon conseguiu responder.
Naquela noite bonita e agradável, a maioria dos jovens estava
no bar mais famoso da cidade. As luzes estavam todas acesas e coloridas e o ar
estava cheio de risos e conversas leves. De repente, as portas se abriram e
todos os olhares se voltaram para a dupla que havia entrado no recinto. Os dois
jovens estavam cobertos de sangue da cabeça aos pés e seus olhares pareciam
perdidos em uma cena de horror.
Ao ver aquilo, uma das moças correu na direção deles e parou
na frente de Everton.
- Minha nossa, o que aconteceu com você? – disse a voz fina
de uma loirinha de cabelos lisos e perfeitamente escovados.
- Um ataque zumbi – Everton respondeu, ainda com o olhar
perdido.
- Coitadinho... – A moça analisou o estado alarmante em que
Everton se encontrava, todo vermelho de sangue. Seus grandes olhos azuis se
enchiam de pena por trás dos óculos de lentes grossas. Nicole era uma moça
sensível, delicada e de bom coração, que parecia bem mais nova pela sua voz
fina, porém, seu corpo cheio de curvas não escondia que ela já não era mais uma
menina. Embora suas roupas fossem sempre muito discretas e comportadas, todos
conseguiam ver que ela tinha um corpo muito bonito e bem formado de mulher.
Num momento repentino, Everton pareceu voltar a si e olhou
nos olhos azuis de Nicole, antes de baixar sua cabeça para beijá-la. Seus
braços a envolveram e ele a levantou, puxando seu corpo para mais perto de si.
Uma porção de vozes ecoaram pelo ar, algumas em tom de
choque, outras de repulsa e outras de empolgação. Não havia uma pessoa no bar
que não estivesse assistindo à cena como se fosse algo surreal, algo saído de um
filme.
Quando o beijo terminou, Nicole olhou para Everton assustada,
seus óculos estavam fora do lugar e sua boca coberta de sangue.
- Nicole, quer namorar comigo?
A moça arregalou os olhos, como se não acreditasse no que
estava acontecendo. Havia um jovem, aparentemente fora de si, coberto de sangue
de zumbis, pedindo ela em namoro e surpreendendo a si mesma, ela disse – Sim.
O bar inteiro se encheu de palmas e gritos, o balcão e as
mesas tremiam com a empolgação das pessoas com a inesperada situação.
Nicole tirou um lencinho branco e perfumado do bolso e
enxugou o rosto de Everton, tirando uma fina camada de sangue da região de seus
olhos. – Deixa eu limpar você.
Everton assentiu e passou o braço por trás da cintura dela,
sumindo de vista com ela pelo bar.
Marlon assistiu à cena impressionado. Como uma situação de
vida ou morte podia mudar a atitude de um homem...
- Vai ficar aí em pé a noite inteira?
Marlon se deu conta de que havia alguém falando com ele.
Sentada ao balcão central, estava Sandra, linda como sempre, com um olhar de
desafio.
Por um momento, Marlon sentiu dificuldade de respirar e seu
coração tremeu em seu peito. – Sandra... – foi a única coisa que conseguiu
dizer por um tempo, até conseguir respirar fundo e tomar coragem. – Posso pagar
uma bebida para você?
Sandra deu risada e Marlon sentiu uma pontada de dor em seu
peito. – Achou engraçado?
- É que você está meio sujo de sangue...
- É, eu tô, mas pode ser minha única chance, por que não
tentar?
Sandra riu novamente, uma risada que era tão difícil de
tirar daquela moça sempre tão séria, um riso cheio e sonoro. – É, por que não?
FIM
Nota: Comentem,
por favor.
Ei, nada mal. Todos personagens são bons e cativantes, principalmente Marlon. Gostei de como adicionou uma camada de profundidade nele em um espaço tão curto de texto :)
ResponderExcluirA ação também foi muito bem construída. É tensa e tem uma boa duração, nem curta nem longa demais. Assim como o "Coragem", acho que esse conto daria um ótimo livro.
Que bom que achou os personagens deste conto cativantes também. E fico feliz por ter achado que adicionei uma camada de profundidade ao Marlon, mesmo num espaço curto de texto :)
ExcluirDecidi não escrever uma cena muito longa de ação e deixar bem direto ao ponto xD Senão eu me empolgo e acabo escrevendo demais xD
Que bom que acha que este conto também daria um livro :)
Mais uma vez, muito obrigada pelo comentário :)
Mais uma vez, disponha sempre hehe
ExcluirTo gostando de ler os seus textos. Você é talentosa e parece ser bastante esforçada. Acho que vai se sair bem como escritora :)
Curti bastante. Mesmo a ideia de zumbis estar saturada, eu gostei. Acho que começar por contos é interessante. Basicamente você tem material neste conto para desenvolver em uma futura sequência.
ResponderExcluirPois é, tem muita coisa de zumbi por aí xD Decidi começar por contos para que as pessoas conheçam um pouco de como eu escrevo e do meu estilo. Que bom que gostou. Muito obrigada pelo comentário!
ExcluirMuito bom Clau!!! Prendi-me ao texto, muito interessante! Gosto de histórias de zumbis!
ResponderExcluirTambém acho que seria legal uma sequência!!!
Bjs!!! Ju
Obrigada, Ju! Que bom que você achou o texto interessante! Não sabia que você gostava de histórias de zumbis! Vou anotar a ideia de uma sequência no meu cérebro e ver se ele me dá alguma ideia :)
ExcluirBeijos!
Parabéns Claudia..Gostei de sua escrita: Firme e interessante. Contos, acredito eu, não são inferiores a romances. Vejo como uma ótima ferramenta literária diante de uma sociedade tão imediatista e ansiosa como a nossa.
ResponderExcluirMuito obrigada, Antonio Santos! Também acho que contos não são inferiores a romances, cada um tem seu propósito :)
ExcluirOlá!
ResponderExcluirPrimeiro preciso dizer que adoro zumbis e tudo que existe sobre zumbis (livros, histórias, filmes, séries e etc. rs) e um fato que chamou a atenção logo de início foi que a história já se passa no contexto da existência de zumbis (porque a maioria das histórias falam sobre o começo de tudo, inclusive algumas que rascunhei rs) e a situação é tratada com normalidade, o que deixa o contexto mais interessante ainda.
A leitura é fácil e descomplicada, principalmente pelos diálogos. Marlon parece realmente um personagem de filme (aquele que quer ser sempre o super herói!)
O pedido de namoro mesmo com Everton coberto de sangue foi bem inusitado rs mas as coisas funcionam assim mesmo, eu acho. Sempre precisamos de um gatilho para tomarmos coragem e, nesse caso, quase ter morrido foi um ótimo gatilho para os personagens conseguirem se aproximar das garotas.
O texto tem suspense, cenas de ação e ainda aquele romance bem humorado, é uma leitura super gostosa.
Enfim, adorei, claro! ♥
Você é super talentosa e com certeza deve escrever um (vários) livro(s) :)
Bjs!
http://marcasindeleveis.blogspot.com.br/
Que bom que também gosta de zumbis! Eu também gosto muitas coisas relacionadas ao tema: séries, filmes, jogos. Sim, a maioria das histórias conta o começo de tudo. Resolvi fazer algo diferente e escrever a história com um tom de humor, como se zumbis já fosse coisa do dia a dia. Sim, também quis que os romances começassem de maneira diferente.
ExcluirQue bom que gostou de ler o texto, isso me deixa muito contente. Também fiquei super feliz em ler todos os seus comentários a respeito dele.
Eu já pensei em escrever um livro de contos sobre zumbis, quem sabe um dia eu continue com o projeto ;)
Muito obrigada mesmo pelo elogio! Você também é super talentosa e escreve muito bem! É sempre um prazer acompanhar o seu blog. Ainda pretendo ler mais textos seus!
Beijos!