domingo, 27 de outubro de 2013

Conto: Chance Única

Gêneros: Ação, Romance, Humor.

Sinopse: A ameaça zumbi já faz parte da vida das pessoas, incluída na rotina do dia-a-dia. Marlon vive sua vida calmamente em meio às suas rondas de vigilância e ao som do Rock ‘n’ Roll... até algo interromper a sua pacata rotina...

Nota: Este é meu conto zumbi (risos). Eu sei que zumbi virou modinha, e eu só me deixei escrever esta história porque a primeira ideia foi para um tipo de paródia. Depois que comecei a escrever, vi que começou a ter um pouco de romance e de ação, e ficar um pouco mais séria, mas sem deixar de ter um tom de humor lá no fundo. Preciso dizer que não entendo nada de mulheres e que não faço a menor ideia do que elas querem em um relacionamento, o que eu escrevi é puramente ficção, não me façam perguntas a esse respeito xD Os acontecimentos se passam em uma cidade fictícia, que aparentemente não ficaria no Brasil, por um motivo que vocês vão entender xD  Algumas repetições de palavras foram intencionais para o ritmo e estilo do texto, que é um tanto mais leve, mais solto.

Chance Única

Por Claudia Mina

Marlon escutava uma música diferente naquele dia, uma canção de melodia romântica, daqueles cantores que têm aquelas vozes bonitas de dar inveja, um estilo diferente do bom e velho rock ‘n’ roll ou do metal que costumava escutar a caminho do seu "emprego". Era uma tarde ensolarada e calma. Marlon sorriu ao ver os raios de sol enquanto escutava o cantor apaixonado – o que o fez lembrar que deveria passar em um lugar especial antes de se dedicar ao seu serviço: a loja de armas.

Marlon desceu do seu jipe e foi caminhando em direção à construção que um dia fora imponente, mas que havia se transformado num tedioso local de paredes desbotadas e cansadas. Logo ao abrir a porta, um irritante ranger de dobradiças deu as boas-vindas ao novo visitante.

- Alguém precisa passar um óleo nisso - Marlon pensou em voz alta e se surpreendeu ao receber uma resposta.

- Isso é uma reclamação?

O olhar de Marlon se voltou para uma jovem que "bonita" seria pouco para defini-la – ela era sensacional. Morena, cabelos castanhos escuros e um leve bronzeado. Corpo perfeito, cheio de curvas nos lugares certos. Usava um jeans colado que era uma loucura, blusinha branca justa e colete preto que maldosamente cobria o decote. Ela era alta, mas estava longe de ser tão alta quanto Marlon, com seus 1,88 m. Seus olhos eram grandes e de um castanho claro – quando o sol os iluminava, brilhavam num dourado escuro. Eles estavam brilhando daquele jeito naquela tarde, com o sol que espreitava pela janela; Marlon estava olhando para eles e eles olhavam de volta com um olhar de deboche, daqueles que mulheres bonitas e inalcançáveis dão a qualquer homem que se aproxima, e Sandra era para ele linda e inalcançável.

- Longe de ser uma reclamação, Sandrinha.

Quando a gata escutou o apelido de Sandrinha, seus olhos se comprimiram numa leve careta de desaprovação, mas logo em seguida ela deu de ombros. - O que você quer dessa vez?

- O de sempre - Marlon sorriu bem-humorado. Ele estava sempre alegre e não era uma garota mal-humorada que o faria perder o bom humor, mesmo porque era uma garota mal-humorada bonita e ele achava aquele olhar de poucos amigos um charme.

- O de sempre? - Sandra perguntou com um certo tom confuso, porém suas mãos já se ocupavam de pegar a munição e colocar em cima do balcão.

- É, o de sempre, por que a surpresa?

- É porque você sempre pede o de sempre- Sandra disse com um tom de inocência que fez Marlon rir.

- É que eu peço o de sempre porque eu gosto de pedir o de sempre.

- Mas você sempre vem aqui pedir o de sempre, porque você não compra mais munição de uma só vez e faz um estoque?

Era verdade que Marlon visitava a loja pelo menos duas vezes por semana, até três...

- É que eu gasto muita munição, sabe, o meu trabalho...

Marlon vigiava os limites da cidade para impedir que algum zumbi se aproximasse das grades de proteção que a cercavam. Não era um trabalho oficial, mas a comunidade o havia escolhido para ser o vigilante local. Eles o pagavam para que ele os protegesse de uma possível ameaça. E ele era bom nisso, gostava disso.

- Tem tantos zumbis aqui perto? - Sandra perguntou alarmada. - Eu pensava que eles já não estavam mais na região...

Era verdade que a cidade há muito não ouvia falar de zumbis. Aparentemente, o governo estava combatendo a ameaça zumbi com bastante eficiência no país, isolando as áreas afetadas. Havia sido um caos no inicio da infestação zumbi, a humanidade se via à beira de um colapso. Com o tempo, os homens aprenderam a lidar com a situação, até que os zumbis se tornaram uma praga controlada. Apenas casos esporádicos eram relatados às autoridades e casos de mortes eram muito raros.

- Só um ou outro zumbi por perto - Marlon tentou consertar a situação para não alarmar a moça. - É que às vezes nos saímos dos limites da cidade para caçar alguns grupos.

Sandra arregalou os olhos. - Vocês saem dos limites da cidade?!

- É... para evitar que eles se aproximem demais... - Marlon mentiu.

- Isso é loucura... mas acho que é preciso muita coragem para isso...

- Isso foi um elogio? - disse Marlon esperançoso.

- Não... Não veja isso como elogio, eu só não quero que você fique se arriscando por ai.

- Você tá preocupada comigo?

- É lógico que não - Sandra colocou o que faltava da munição em cima do balcão. -Pronto, já tá tudo aqui.

- Entendi, vou parar de amolar você e trabalhar um pouco. – Marlon pegou a munição e deixou o dinheiro sobre a mesa. – Eu tô indo embora, mas não pense que se livrou de mim – disse ao caminhar em direção à porta.

- Ah... isso eu sei que vai ser difícil...

Marlon sorriu enquanto saía da loja, entrou no carro novamente e seguiu seu caminho. Era realmente um belo dia de sol e tudo parecia alegre e tranquilo naquela cidade.

No caminho, Marlon viu uma velhinha sorridente, sentada alegremente em um banco em sua varanda, agulha e linha para um bordado em suas mãos e uma espingarda como companheira ao seu lado.

Passando por um campinho, havia crianças brincando alegremente, dois meninos e uma menina, todos com suas pistolas, tentando ver quem acertava melhor o alvo. Marlon sorriu ao se recordar da sua infância, quando ele treinava tiro em sua escola. Fazia parte da grade curricular ter aulas de tiro e defesa para um possível ataque zumbi; era a matéria preferida de Marlon. As outras crianças costumavam zombar dele pelo entusiasmo exagerado que ele demostrava em cada aula. Toda a vez que o professor perguntava quem queria começar um treinamento novo, Marlon sempre era o primeiro a se prontificar. Ele não ligava para os risos dos colegas, nem um pouco. Apesar de ele ter sido aquela criança bem maior que as outras, ele nunca se aproveitou de seu tamanho para bater em alguém, ou ameaçar alguém. Apesar de adorar as aulas de artes marciais e competições de luta, Marlon nunca foi de brigar. Sempre foi alegre e sorridente. Nunca havia tempo ruim para ele.

Após alguns minutos de carro pela via ensolarada, Marlon chegou em uma casa no meio de um bairro residencial. Era uma casa branquinha, mais uma entre todas as outras, nada de especial. Ele bateu à porta, mas não escutou resposta alguma, então simplesmente testou a maçaneta e entrou no local; passou pela sala e seguiu o corredor até o quarto, onde encontrou um rapaz dormindo como se não houvesse a menor preocupação com o mundo. Marlon não pensou duas vezes antes de pular em cima da cama e atacar o jovem com um travesseiro.

- É HORA DE ACORDAR! – ele gritava enquanto pulava sobre a cama.

O rapaz recém-acordado levou um susto tão grande que quase caiu no chão, mas se segurou ao colchão no último instante.

- O que você tá fazendo aqui? – Everton perguntou, embora já soubesse a resposta.

- Já passou da hora de fazer a ronda!

- E daí? - Everton esfregou os olhos e afundou o rosto no travesseiro novamente. – Nunca acontece nada – disse com a voz abafada pelo tecido. – Você sabe que não temos ataques há meses...

- E você acha que isso é motivo para baixar a guarda? – Marlon puxou Everton pela camiseta e o fez olhar para ele. Por um momento, Marlon pareceu sério. Olhar para o rosto de Everton trouxe uma lembrança antiga à tona.

Há um tempo, quando Marlon não devia ter mais de 11 ou 12 anos, havia uma menina com aquele mesmo cabelo loiro do Everton e os mesmos olhos verdes. Era a coisa mais bonitinha que Marlon já vira. Ele a observava no parquinho, brincando no balanço ou colhendo florezinhas. Marlon nunca sentiu aquela desavença que alguns meninos sentem pelas meninas em certa época da infância. Ele sempre as achou umas gracinhas e adorava brincar com elas. Marlon gostava especialmente de brincar com aquele anjinho loirinho chamado Melissa. Ela era tímida e Marlon se esforçava ao máximo para fazê-la sorrir. Ele contava várias piadas, inventava várias histórias malucas, só para ouvir aquela risada doce, e se sentia muito vitorioso quando conseguia ganhar um sorriso. Um dia, porém, ele soube que nunca mais poderia escutar aquele riso. Havia acontecido um ataque inesperado no parque, de alguma maneira os zumbis conseguiram atravessar a barreira na mata e alcançado o local. Só houve um caso fatal naquele dia, apenas uma menina que não conseguiu fugir. Aquele foi o único dia em que Marlon faltou ao treinamento na escola, foi o dia do enterro da Melissa.

- Você tá bem, cara? – disse Everton ao ver a mudança na expressão de Marlon. Era realmente muito estranho vê-lo sem um sorriso no rosto, com um olhar baixo e perdido.

- Tô bem sim. – Marlon afastou os pensamentos da cabeça e se levantou da cama, olhando ao redor. Havia vários videogames e jogos espalhados pelo chão do quarto. – Não me diga que passou a noite inteira jogando de novo...

- Ah... passei, e daí?

Marlon sabia que não tinha o que se fazer com pessoas assim – essas pessoas viciadas em videogame. - Vai, se arruma logo, a gente precisa sair daqui.

Everton se levantou da cama e começou a trocar de roupa e pegar suas armas com muita preguiça.

- Aposto que não tá nem malhando.

- Tô sim – Everton bocejou.

- Quando foi a última vez?

- Uns dias aí...

Marlon não entendia como as pessoas tinham tanta preguiça de malhar. Ele sempre acordava cedo, com toda a disposição do mundo e estava lá na academia que montara em casa. Marlon queria estar sempre em forma para vigiar a cidade e protegê-la durante um possível ataque... Talvez ele tenha assistido muitos filmes de super-heróis quando criança e no fundo queria ser um... Talvez ele apenas queria poder salvar alguém.

Quando Everton ficou pronto, os dois saíram e entraram no carro de Marlon. Eles atravessaram a cidade e pegaram a estrada que a circulava, beirando os limites dela. Naquele momento era de tarde, e o sol queimava com uma intensidade quase cruel. Pelo menos o vento era agradável e trazia um alivio momentâneo quando soprava sobre eles. A música era alta, de um rock antigo e bom, e Marlon não se atreveu a atrapalhar a guitarra contando mais uma de suas piadas. Ele simplesmente estava contente em deixar o som rolar. Everton estava quieto enquanto olhava a paisagem quase desértica ao seu lado; ele sempre fora um rapaz muito quieto. Marlon tinha a impressão de que eles sempre estudaram na mesma escola, mas nunca chegou a reparar nele, de tão quieto que ele era. Everton era aquela criança que ficava num canto e nunca falava com os outros. Marlon apenas o reconhecia algumas vezes andando por algum corredor porque sabia que aquele era o irmão da Melissa. A primeira vez que o viu foi no velório da irmã, ele era pequeno e estava quieto, não olhava ninguém. Talvez fosse muito novo para entender. Talvez entendesse bem demais. Certo dia Marlon resolveu passar mais tempo nos campos de treinamento da escola e viu aquele menino quieto treinando tiro. Marlon viu Everton acertar o alvo todas as vezes. Quando se aproximou e perguntou o que ele fazia para ser tão bom, Everton simplesmente respondeu que aprendeu com videogames. Quando Marlon começou seu trabalho de caçador de zumbis, chamou Everton para ser seu parceiro; na época, há cinco anos, aquele rapaz tímido, que mal havia saído da adolescência, já era o melhor atirador da cidade.

Eles fizeram a ronda pela região, como de costume, e pararam em alguns check points para ter uma visão mais ampla das áreas que cercavam a cidade. Os dois viram que estava tudo tranquilo, como sempre, as grades e muros que cercavam os limites da cidade estavam intactos, não havia nenhum sinal que perturbasse a paz daquelas planícies. Já era começo de noite quando resolveram dar uma parada num local onde o céu parecia de uma imensidão sem fim. Deixaram o jipe na estrada e caminharam até um local no meio da planície, sentaram-se na terra seca da região semiárida e puseram-se a admirar os montes ao longe e o mar celeste de estrelas sobre suas cabeças. Latas de cerveja foram abertas e a conversa começou. Aquela antiga conversa de sempre...

- Nada com a Nicole ainda? – Marlon perguntou após uns goles de cerveja.

Everton permaneceu em silêncio por um tempo, tomou um gole da bebida, pensou um pouco, e só depois respondeu. – Eu ainda tô esperando a hora certa.

- Que isso de hora certa? Você já tá esperando há um ano... ou mais? Acho que mais...

- A Nicole é uma garota delicada, não é para ir chegando de qualquer jeito...

- Não, não precisa ser de qualquer jeito. Você pode ir lá, na boa, puxar um papo, daí você vai chegando mais perto, deixando ela mais à vontade. Você diz que gostou dela e pergunta se tem chance.

- Não! Vai que ela fala que não! – disse Everton alarmado.

- Ah... É uma possibilidade, você precisa ser homem e encarar.

- Mas eu não quero que ela diga não!

- Mas se você nunca disser nada, nunca vai ter chance.

- Eu sei, mas... como eu disse, eu tô esperando o momento certo.

- Everton, você tá é com medo, mulher não gosta de homem covarde. Mulher gosta de homem com atitude. Eu nunca tive medo de falar com uma mulher. Eu posso levar um fora, mas eu não fico sem tentar. Às vezes você ganha, às vezes você perde, é a vida. É só ficar tranquilo, ser legal, ter bom humor, não precisa ter medo.

- Mas você tem medo da Sandra...

Marlon se lembrou da moça da loja de munição... – É... eu tenho medo dela... – O jovem riu. – Eu tenho medo da Sandra. Nunca vi mulher como aquela... Parece aquele tipo de mulher inalcançável... Incrível demais para ser verdade.

- Viu? Até você tem medo.

- Mas eu vou tentar um dia, eu não vou desistir.

- Duvido você tentar na próxima vez que você for ver a Sandra.

- Você tá querendo me desafiar? Tá querendo fazer uma aposta?

- Tô dizendo que você não tem toda essa coragem – Everton sorriu de maneira jocosa.

- Não tenho, é? Vamos fazer o seguinte, assim que eu voltar, vou falar com a Sandra, mas você vai falar com a Nicole também.

Everton sentiu um certo tremor de apreensão percorrer seu corpo, mas decidiu aceitar o desafio. – Tá certo.

- Eu não ouvi direito! – Marlon gritou e sua voz se espalhou pelo ar da planície.

- Eu vou falar com a Nicole! – Everton também gritou.

Marlon deu risada – Agora eu senti firmeza!

Everton também riu e o ar da conversa se tornou muito mais leve. A noite estava clara, bonita e agradável e eles haviam acabado de terminar a primeira cerveja. Marlon pegou mais duas latas da caixa térmica e estendeu a mão para oferecer uma delas para Everton, mas o rapaz parecia não estar prestando atenção.

- O que é aquilo? – Everton disse com o olhar fixo no horizonte.

- Aquilo o quê? – Marlon olhou para o horizonte e por um momento só viu os montes ao longe.

- Parece que tem alguma coisa se mexendo... – Everton forçou a visão.

- Eu não tô vendo nada...

Everton se levantou repentinamente e pegou seu rifle numa rapidez impressionante. Um segundo mais tarde, o som de um tiro cruzou as planícies num estampido cortante.

- Que isso, Everton, tá querendo me assustar? – Marlon ainda não estava entendendo o que estava acontecendo, mas seus instintos o fizeram levantar, pegar a metralhadora e apontar a arma para a mesma direção que Everton apontava a sua. Marlon olhou para o amigo e viu uma expressão extremamente séria no rosto do rapaz, mais um tiro foi disparado. – O que está acontecendo? – Marlon perguntou num suspiro.

Everton não respondeu, parecia estar sob o efeito de alguma magia. Foi quando Marlon reparou em algo que se mexia à distância, algo com braços e pernas humanos, mas que ele tinha certeza que não era mais humano. – Não pode ser...  – Marlon viu Everton acertar o zumbi que ele vira e depois um outro que surgiu. Depois disso, não parecia ter mais nenhum zumbi à vista, mas o instinto de alerta ainda reinava com força e eles esperaram um pouco mais... até perceberem que mais zumbis apareceram. Everton começou a atirar sem parar, e cada tiro era certeiro, derrubando os zumbis no ato.

Por um momento, a situação pareceu sob controle, mas uma quantidade maior de zumbis surgiu e alguns começaram a escalar as grades de proteção. Marlon e Everton estavam longe da cidade, em uma região não tão bem guardada. Em dado momento, apenas a distância era o que os separava de um contato direto com os zumbis, distância que se encurtava à medida que a horda de zumbis crescia. Everton se concentrava em atirar nos zumbis mais distantes com seu rifle e Marlon atirava nos que escapavam da mira de Everton com sua metralhadora. A dupla parecia trabalhar em plena sintonia e a situação mais uma vez parecia controlada, até que um grito de Everton foi ouvido:

- Do outro lado!

Marlon viu que um novo grupo de zumbis estava vindo de outra direção, na sua direção, e se virou para metralhá-los.

- Marlon! – Everton gritou em desespero.

No momento em que Marlon escutou seu nome, sentiu braços frios e pegajosos o segurarem por trás. Marlon sentiu a força descomunal e lutou para se soltar, até conseguir girar o corpo e derrubar o zumbi com um golpe marcial. Logo que pôde, Marlon atirou na cabeça do zumbi que estava no chão, livrando-se daquela ameaça, e logo em seguida voltou a atenção para os outros. Naquele momento, Everton já tinha trocado o rifle pela metralhadora e atirava nos zumbis que mais e mais se aproximavam e já os cercavam.
De repente, Marlon se viu sem munição e se lembrou de que havia deixado o que comprara no jipe... que estava encostado na estrada, a uma distância que naquele momento parecia longe demais. Ele sabia que Everton logo estaria sem munição também, eles não estavam preparados para um ataque daquela magnitude... o veículo parecia ser a única saída.

- Para o jipe! – Marlon gritou e tentou abrir caminho por entre a horda de zumbis. Everton tentou segui-lo, mas os zumbis o cercaram.

- Everton! – Marlon gritou ao ver o amigo sumir em meio aos zumbis...  Desespero passou pela sua mente por um momento, mas ele não demorou a partir para cima dos inimigos no corpo a corpo, a vida de Everton dependia dele. Marlon pegou um zumbi pelo pescoço, derrubando-o no chão. Ele retirou uma adaga do cinto, antes, apenas uma lembrança de seu pai; naquele momento, sua única salvação. Ele cravou a adaga na cabeça do zumbi no chão e logo se levantou para cortar o pescoço de outro. Golpeou um deles com o cotovelo esquerdo, aturdindo-o, e logo em seguida, cravou a adaga na cabeça de outro com a mão direita, para então fincar a adaga no zumbi aturdido. O ar estava pesado com o cheiro de carne decomposta e morte. Em meio ao desespero e sangue, Marlon lutou como nunca havia lutado, nunca estivera tão perto de perder a vida. Num esforço que beirava a insanidade, Marlon se viu derrubando zumbi após zumbi apenas com a sua força física e a adaga de seu pai, até não sobrar nenhum para atacá-lo. Marlon mal podia acreditar no que tinha acontecido, mas não tinha tempo a perder.

Em meio aos corpos caídos no chão, ele levou um tempo para retirá-los do caminho e localizar Everton. O rapaz mais jovem estava coberto de sangue, da cabeça aos pés, com um olhar assustado.

- A gente quase morreu, né? – Everton disse após um longo silêncio.

- É, a gente quase morreu – foi a única coisa que Marlon conseguiu responder.

Naquela noite bonita e agradável, a maioria dos jovens estava no bar mais famoso da cidade. As luzes estavam todas acesas e coloridas e o ar estava cheio de risos e conversas leves. De repente, as portas se abriram e todos os olhares se voltaram para a dupla que havia entrado no recinto. Os dois jovens estavam cobertos de sangue da cabeça aos pés e seus olhares pareciam perdidos em uma cena de horror.

Ao ver aquilo, uma das moças correu na direção deles e parou na frente de Everton.

- Minha nossa, o que aconteceu com você? – disse a voz fina de uma loirinha de cabelos lisos e perfeitamente escovados.

- Um ataque zumbi – Everton respondeu, ainda com o olhar perdido.

- Coitadinho... – A moça analisou o estado alarmante em que Everton se encontrava, todo vermelho de sangue. Seus grandes olhos azuis se enchiam de pena por trás dos óculos de lentes grossas. Nicole era uma moça sensível, delicada e de bom coração, que parecia bem mais nova pela sua voz fina, porém, seu corpo cheio de curvas não escondia que ela já não era mais uma menina. Embora suas roupas fossem sempre muito discretas e comportadas, todos conseguiam ver que ela tinha um corpo muito bonito e bem formado de mulher.

Num momento repentino, Everton pareceu voltar a si e olhou nos olhos azuis de Nicole, antes de baixar sua cabeça para beijá-la. Seus braços a envolveram e ele a levantou, puxando seu corpo para mais perto de si.

Uma porção de vozes ecoaram pelo ar, algumas em tom de choque, outras de repulsa e outras de empolgação. Não havia uma pessoa no bar que não estivesse assistindo à cena como se fosse algo surreal, algo saído de um filme.

Quando o beijo terminou, Nicole olhou para Everton assustada, seus óculos estavam fora do lugar e sua boca coberta de sangue.

- Nicole, quer namorar comigo?

A moça arregalou os olhos, como se não acreditasse no que estava acontecendo. Havia um jovem, aparentemente fora de si, coberto de sangue de zumbis, pedindo ela em namoro e surpreendendo a si mesma, ela disse – Sim.

O bar inteiro se encheu de palmas e gritos, o balcão e as mesas tremiam com a empolgação das pessoas com a inesperada situação.

Nicole tirou um lencinho branco e perfumado do bolso e enxugou o rosto de Everton, tirando uma fina camada de sangue da região de seus olhos. – Deixa eu limpar você.

Everton assentiu e passou o braço por trás da cintura dela, sumindo de vista com ela pelo bar.

Marlon assistiu à cena impressionado. Como uma situação de vida ou morte podia mudar a atitude de um homem...

- Vai ficar aí em pé a noite inteira?

Marlon se deu conta de que havia alguém falando com ele. Sentada ao balcão central, estava Sandra, linda como sempre, com um olhar de desafio.

Por um momento, Marlon sentiu dificuldade de respirar e seu coração tremeu em seu peito. – Sandra... – foi a única coisa que conseguiu dizer por um tempo, até conseguir respirar fundo e tomar coragem. – Posso pagar uma bebida para você?

Sandra deu risada e Marlon sentiu uma pontada de dor em seu peito. – Achou engraçado?

- É que você está meio sujo de sangue...

- É, eu tô, mas pode ser minha única chance, por que não tentar?

Sandra riu novamente, uma risada que era tão difícil de tirar daquela moça sempre tão séria, um riso cheio e sonoro. – É, por que não?

FIM

Nota: Comentem, por favor.

11 comentários:

  1. Ei, nada mal. Todos personagens são bons e cativantes, principalmente Marlon. Gostei de como adicionou uma camada de profundidade nele em um espaço tão curto de texto :)

    A ação também foi muito bem construída. É tensa e tem uma boa duração, nem curta nem longa demais. Assim como o "Coragem", acho que esse conto daria um ótimo livro.

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    1. Que bom que achou os personagens deste conto cativantes também. E fico feliz por ter achado que adicionei uma camada de profundidade ao Marlon, mesmo num espaço curto de texto :)

      Decidi não escrever uma cena muito longa de ação e deixar bem direto ao ponto xD Senão eu me empolgo e acabo escrevendo demais xD

      Que bom que acha que este conto também daria um livro :)

      Mais uma vez, muito obrigada pelo comentário :)

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    2. Mais uma vez, disponha sempre hehe

      To gostando de ler os seus textos. Você é talentosa e parece ser bastante esforçada. Acho que vai se sair bem como escritora :)

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  2. Curti bastante. Mesmo a ideia de zumbis estar saturada, eu gostei. Acho que começar por contos é interessante. Basicamente você tem material neste conto para desenvolver em uma futura sequência.

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    1. Pois é, tem muita coisa de zumbi por aí xD Decidi começar por contos para que as pessoas conheçam um pouco de como eu escrevo e do meu estilo. Que bom que gostou. Muito obrigada pelo comentário!

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  3. Muito bom Clau!!! Prendi-me ao texto, muito interessante! Gosto de histórias de zumbis!
    Também acho que seria legal uma sequência!!!
    Bjs!!! Ju

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    1. Obrigada, Ju! Que bom que você achou o texto interessante! Não sabia que você gostava de histórias de zumbis! Vou anotar a ideia de uma sequência no meu cérebro e ver se ele me dá alguma ideia :)
      Beijos!

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  4. Parabéns Claudia..Gostei de sua escrita: Firme e interessante. Contos, acredito eu, não são inferiores a romances. Vejo como uma ótima ferramenta literária diante de uma sociedade tão imediatista e ansiosa como a nossa.

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    1. Muito obrigada, Antonio Santos! Também acho que contos não são inferiores a romances, cada um tem seu propósito :)

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  5. Olá!
    Primeiro preciso dizer que adoro zumbis e tudo que existe sobre zumbis (livros, histórias, filmes, séries e etc. rs) e um fato que chamou a atenção logo de início foi que a história já se passa no contexto da existência de zumbis (porque a maioria das histórias falam sobre o começo de tudo, inclusive algumas que rascunhei rs) e a situação é tratada com normalidade, o que deixa o contexto mais interessante ainda.
    A leitura é fácil e descomplicada, principalmente pelos diálogos. Marlon parece realmente um personagem de filme (aquele que quer ser sempre o super herói!)
    O pedido de namoro mesmo com Everton coberto de sangue foi bem inusitado rs mas as coisas funcionam assim mesmo, eu acho. Sempre precisamos de um gatilho para tomarmos coragem e, nesse caso, quase ter morrido foi um ótimo gatilho para os personagens conseguirem se aproximar das garotas.
    O texto tem suspense, cenas de ação e ainda aquele romance bem humorado, é uma leitura super gostosa.
    Enfim, adorei, claro! ♥
    Você é super talentosa e com certeza deve escrever um (vários) livro(s) :)
    Bjs!
    http://marcasindeleveis.blogspot.com.br/

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    1. Que bom que também gosta de zumbis! Eu também gosto muitas coisas relacionadas ao tema: séries, filmes, jogos. Sim, a maioria das histórias conta o começo de tudo. Resolvi fazer algo diferente e escrever a história com um tom de humor, como se zumbis já fosse coisa do dia a dia. Sim, também quis que os romances começassem de maneira diferente.
      Que bom que gostou de ler o texto, isso me deixa muito contente. Também fiquei super feliz em ler todos os seus comentários a respeito dele.
      Eu já pensei em escrever um livro de contos sobre zumbis, quem sabe um dia eu continue com o projeto ;)
      Muito obrigada mesmo pelo elogio! Você também é super talentosa e escreve muito bem! É sempre um prazer acompanhar o seu blog. Ainda pretendo ler mais textos seus!
      Beijos!

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